domingo, 13 de dezembro de 2009

3. A escola

Olhei a escola. Cinza. Era uma construção pré-moldada dessas que são criadas em caráter emergencial e que depois deveriam ser substituídas por prédios escolares. Estava ali há 20 anos. Eu não queria acreditar que passaria parte da minha vida ali mas uma placa confirmava essa expectativa: ESCOLA MUNICIPAL CLARISSE LISPECTOR. Gelei ao ler isso.

O portão gradeado e trancado por uma corrente me deu a sensação de olhar um presídio ou pior, os Portões de Hades. Me aproximando do portão, não vi viva alma naquele lugar. Sussurrei um "o que é isso!" então olhei para o meu pai já transformado numa poça vermelha de suor e calor, desta vez com os olhos arregalados mas para não perder o otimismo tentou com a última de suas forças soltar um: “É ótima a escola.” A voz dele não tinha nenhuma – nem uma mísera gota de convicção. Aquela frase Poliana soou constrangedora. Fiquei parada olhando - como dizer... - aquilo e não via vida naquele lugar. Não tinha luz acesa, nenhum movimento, nenhum barulho, nenhuma porta destrancada. Cansada e com ímpeto de desistir lancei mão de um: “Não tem ninguém aqui, vamos embora”. Meu pai se lembrou das palavras da secretária "Você tem que se inscrever na escola hoje" ficou apavorado que eu botasse tudo a perder por não assinar um papel e naquela altura do campeonato por causa da burocracia eu morresse na praia. Então com animada fúria começou a bater palma como os antigos “Ô de casa!”. Funcionou.

Não demorou muito e veio uma senhora loira sorridente e com uma dos maiores quadris que eu já tinha visto em toda a minha vida. Dona Bolota era inspetora da escola e morava no local. Em uma mínima sala com cozinha ela vivia com o marido e em outra sala (equivalente a meia sala de aula) era o quarto do seu filho. Ela também tinha alguns cachorros – que ela adorava mas que eram feios por demais. E que eventualmente mordiam alguma criança na escola. Mas isso é um capítulo a parte.

Entrando na escola pude observar que atravessando o portão, havia uma construção comprida, na entrada da escola, esse anexo à esquerda onde deduzi haver 4 salas. Esta construção destoava do resto da escola por ser.... uma construção normal, não era pré-fabricado. Essa diferença dava aquela construção uma cara de casa normal. tinha porta e janela. Janelas que davam para o muro da frente que era baixo. Janelas que ficariam fechadas para todo o sempre. Apesar do sufocante calor. Era melhor janela fechada que venda de mariola e outras coisitas más em plena luz do dia.

Em seguida reparei na enorme árvore com uma sombra que me pareceu um oásis naquele deserto ficava entre esse anexo e o começo do prédio original da escola. Depois eu descobri que era uma mangueira. Não consigo identificar uma árvore da outra, e isso já foi motivo de piada entre meus alunos.

Atravessando esse pátio, à direta ficava uma quadra de esportes. Ou melhor, um quadrado de cimento com duas traves de futebol que chamavam de quadra de esportes. O sol estava a pino e ali não batia nenhuma brisa. Aquele ar parado e seco que baixa a pressão e deixa a gente zonzo. Fiquei imaginando como um professor de educação física poderia ficar o dia inteiro trabalhando ali debaixo daquele sol. Me pareceu criminoso deixar alguém ali sem protetor solar e sombra. Os professores de educação física ganham adicional por insalubridade?

Na minha frente agora aparece uma parede de grades. Vamos atravessar essa segunda camada de grades que leva ao interior da escola. O interior da escola era escuro. Muito escuro. O próprio inferno, só que mais fresco. Um hall bem comprido decorado (decorado é o termo?) com dois bancos de cimento na lateral direita (desses que a gente vê nas praças) – que durante o período letivo seriam ocupadas pelas bundas gordas das mães desocupadas da comunidade. À esquerda, uma área fechada bem grande que servia de refeitório. Afinal tinha uma porta com uma placa refeitório.

Bem em frente a este corredor, uma sala aberta com a luz acesa e uma senhora mulata de óculos, alegre e sorridente me saudou com uma voz potente: “Você deve ser a nova professora de artes. Sou Florinda a diretora da escola.” “Sim, sou eu mesma. Meu nome é Patricia, esse é meu pai.” Meu pai sacou um lenço, deu uma belíssima enxugada no rosto e fez a linha simpaticão. Apresentei meu pai e disse que ele me fazia companhia por causa da contratura muscular, que eu tinha machucado a coluna. A diretora deu uma enorme gargalhada e completou: "Ah menina, esse colete aí é para coluna? Achei que era colete a prova de bala!" , "As pessoas usam colete a prova de bala por aqui?" disse rindo como uma piada. A diretora rindo mais alto ainda perguntou: "Você mora onde?" Eu respondi pela primeira e última vez: ipanema. "Ah, garota de ipanema. Tem cara mesmo. Ih você vai estranhar muita coisa por aqui. Vai achar pitoresco".

Meu sangue comunista misturado com a educação classe média burguesa fez uma salada emocional temperada a mimos de filha única e antes que eu respondesse qualquer coisa à altura, meu pai antevendo que eu estava ficando irritada e que o clima poderia esquentar e eu ainda não tinha assinado nada, se meteu na conversa agiu como um bom advogado de conciliação. Passando a mão no ombro da Dona Florinda (ai estou me sentindo a Chiquinha do Chaves agora), mudou drásticamente de assunto dizendo que a escola era ótima, muito limpa, que as paredes estavam bem pintadinhas e (pasmem!) Admirado de como era fresquinho lá dentro. D. Florinda sorriu. Meu pai estaria cativando-a Saint-Exupéry? Eu fiquei muda. Olhava ao meu redor e nada que ele falava me parecia possível. Ele estava num mundo paralelo? Fiquei perplexa.

No final deste hall, havia outro corredor transversal onde ficavam as salas de aula da escola. Seis salas para o lado direito (sendo três de cada lado do corredor) e para o lado esquerdo víamos outras salas – depois soube que eram as de vídeo, a dos professores, uma despensa, a casa da D. Bolota e os banheiros (4 no total. O de alunos separado em Feminino e masculino com 5 reservados cada e separado os banheiros dos professores. Um feminino e outro masculino cada qual com reservado e ducha).

Saí do profundo silêncio quando falei que estava com sede. A diretora apontou um bebedouro. Senti um nojo! Profundo nojo. Não queria colocar minha boca ali mas nem f... Só que eu não podia fazer a linha “fresquinha” logo de cara e causar um má impressão. Já antevia que seria chamada de a garota de ipanema por algum tempo. Meu pai vendo minha reação, faceiro soltou um “Ah que ótimo, vou beber também.” E foi até o bebedouro. Acionou a água. Um jato minguado saiu de lá. Desses que gente tem que colocar a boca bem perto e onde os mais nojentos chupam a água como se a torneira fosse um canudinho. Meu pai bebeu aquela água e ainda comentou: “Humm, está geladinha!”. Vem Patricinha. Vem! O tom de voz era o mesmo. Era a voz do Parque Guinle. Lá ia eu quebrar meu nariz novamente. E assim fui eu respirando fundo para dar um golinho naquela água. Vou acabar pegando hepatite aqui – pensei.

Depois de finalmente assinar a papelada e ouvir as saudações de boas vindas super animada da minha diretora, fui comunicada que eu precisaria voltar no dia seguinte só para assinar o ponto. Então eu levaria 2 horas e meia para assinar o ponto e mais duas horas e meia para voltar. Perderia meu dia inteiro SÓ par assinar o ponto.

Afinal não tinha nada para fazer na escola mas meu horário já contava desde aquele momento. Meu horário eram 16 horas semanais, onde deveria cumprir 12 em sala de aula e 4 na escola para reuniões, provas e principalmente para bater o ponto. A hora aula era de 50 minutos. Ou seja 16 horas para um professor na verdade são na verdade 13 h e 20 minutos. Como o turno tinha 6 tempos de aula, eu poderia fazer meu horário em dois dias e meio ou dois dias (de absoluto cabo a rabo, sem respirar nenhum tempo). Dona Florinda também me ofereceu uma meia dupla regência (6 horas aula extras por semana) – já que a escola tinha déficit de professor de artes. Eu trabalharia apenas três dias na semana e ganharia um pouco mais do que o salário inicial. Parecia uma excelente proposta. Achei ótimo. (Não sabia o que estava por vir) ...

Também fui comunicada que deveria participar da Colônia de Férias da região se quisesse ganhar meu salário de janeiro. Que esta colonia começaria na primeira semana de janeiro e que duraria o mês todo. Eu teria menos de 15 dias para me preparar para o trabalho. Mas não era opcional. Era obrigatório.

Sentindo que acabara sua missão, e para me tirar do estado de choque e da inércia, meu pai começou a se despedir para ir embora. E sugeriu que eu usasse o banheiro, afinal a viagem de volta era longa. usou "aquela voz". Me dirigi ao banheiro dos professores e a diretora gritou: "Vem pegar a chave". Voltei e me deparei com um pedaço de tubo de PVC marrom cuja ponta, amarrada por um arame enferrujado, pendia uma chave. Por segundos eu estranhei aquele objeto. Mas sabia o que era aquilo. Afinal sou freqüentadora de botequins e de pés sujos. Mas não reconheci de cara por estar totalmente fora do contexto. Isso é um chaveiro de boteco! Espero que o banheiro não seja também um banheiro de boteco. Lá vamos nós! - Tomei coragem e fui.

Passei pelo banheiro dos alunos e senti um cheiro azedo encruado. Fui até o banheiro das professoras e abri a porta. Ufa! Era decente. O chão não era de cimento como toda a escola, era de cerâmica. Na parede não tinha azulejo mas era “bem pintadinho” como meu pai havia dito. Uma pia com espelho e um reservado, além de outro com a ducha. Alguém toma banho aqui? Bem, deixa para lá. Fiquei feliz por ter papel higiênico. Fiz xixi numa posição quase de pé, dei descarga num cordãozinho que puxei e fui até a pia. Não tinha sabonete. Nojo. E se eu tivesse que fazer cocô ali? Nojo. Ainda bem que eu sabia como agir, afinal no boteco também não tem sabonete. E eu como pastéis que são fritos lá. Ai que nojo. Vamos lá... Passei bastante água nas mãos, esfreguei bastante e sequei a mão na calça jeans. Tranquei a porta e saí de lá. Anotei no meu caderninho da hello kit: Dica numero 1) preciso montar um kit higiene com lenço de papel, sabonete, toalha, escova de dente e pasta.

De volta à sala da direção, meu pai e a minha nova diretora já pareciam amigos de infância conversando às gargalhadas. Meu pai está rindo de quê? O que há aqui para rir? Eu estava quase chorando. A diretora então falou para eu assinar o ponto da semana já que eu morava muito longe e estava com a coluna machucada que não era necessário eu voltar naquela semana e piscou para o meu pai que me olhou com cara de "eu não tenho nada a ver com isso". Bom senso de D. Florinda ou “jeitinho” do meu pai?! O que importa é que gostei dela por essa atitude. Depois a adorei cada vez mais. É uma leoa tentando manter as rédeas incontroláveis daquele lugar. Além de ser generosa e preocupada com todo mundo. Saí de lá com um mini sorriso de alívio, dois beijos na bochecha e um: “Seja bem vinda!” animado de Dona Florinda que ainda arrematou: Seu pai é ótimo! e piscou novamente para ele. Nunca comentamos nada a respeito disso. Papai se despediu radiante, tinha cumprido seu papel de simpático e eu assinei o tal papel.

Dona Bolota reapareceu da escuridão e foi arrastando sua enorme buzanfa até a grade e abriu o portão para a gente sair. Já do lado de fora há alguns passos dali meu pai sorriu e me falou: “É ótimo aqui. Adorei a escola.” Eu o fuzilei com um olhar achando que ele só podia ter falado aquilo de sacanagem e perguntei como a gente ia embora dali. ele deu uma corrida e chamou a rainha da buzanfa novamente. Que de onde estava apenas se virou e aos berros explicou que devíamos seguir pela esquerda aquela rua até a altura da padaria e então virar para a direita e que essa outra rua ia dar na Avenida Brasil. Então ela perguntou para onde a gente estava indo. Já tinha percebido que ser a Patricinha, garota de ipanema naquele lugar não era uma coisa positiva e adotei a resposta que usaria daqui para frente quando me perguntavam onde eu morava: No centro!

D. Bolota arrematou que era para a gente atravessar a passarela e pegar o ônibus do outro lado da Brasil. Eu estava do outro lado do Brasil.

Fomos andando pela rua e eram casas muito simples, não havia asfalto nem calçada. Alguns raros carros – desses que não passam na vistoria do DETRAN – capengados com pessoas segurando portas ou amarrados com barbantes circulavam em alta velocidade. Seguimos por alguns minutos até chegar na tal padaria. Então chegamos a rua principal do lugar. Alguns moto taxis e uma pequeno comércio. Dali podíamos ver a outra escola – onde seria a colônia de férias. Era o único prédio do local, muito fácil de identificar. Papai ia falando coisas do tipo: “Que casa amarela bonita!” ou “Nossa a padaria é bem vermelha”. Acho que me tentava me dar dicas para lembrar do caminho quando eu voltasse para dar aulas e não me perdesse por ali.

Já na Avenida Brasil, o ponto de ônibus ficava na altura de um posto de gasolina. Meu pai: anota o nome desse posto que é para avisar pro motorista do ônibus onde você quer descer e não se perder quando vier trabalhar. Antes de atravessar a passarela comecei a ver as peculiaridades do local. Muitas bicicletas estacionadas na base da passarela. E motos cruzando a passarela normalmente.

Afinal como não tem transporte público ali as únicas opções são moto táxi e bicicleta. Para quem tem disposição. Para quem não tem porque está doente ou é idoso, o negócio é ficar em casa.

Atravessei a passarela. Morro de medo de passarela. Tenho um pouco de vertigem. E atravessar a Avenida Brasil para mim era como uma atravessar uma montanha russa. Me causava a mesma sensação. Antes de cruzar a passarela, olhei para trás. Ali do alto é que tive a dimensão do lugar que estava. Enorme. Um sem fim de casas de tijolos... Tudo muito pobre. Então subitamente eu compreendi: “Papai, isso aqui é uma favela!”

sábado, 12 de dezembro de 2009

2. O que é preciso fazer para se tornar uma professora?

A vida de atriz não é nada fácil. O dinheiro é muito curto e as propostas de trabalho são eventuais. Se durante alguns meses eu ganhava um bom (na época eu achava bom) dinheiro participando de algum evento, outros tantos meses eu ficava em casa gastando aquele dinheiro todo (O que era rápido e fácil). Ficar desempregada e desesperada para mim era um estado normal. Para acabar com essa montanha russa financeira resolvi ter um plano B.

Não, eu não estava bêbada quando achei que a solução da minha vida seria virar professora municipal. Essa idéia foi do meu pai. Ele estava bêbado. (E lançou aquela típica ideia como pimenta no cú alheio). Os pais deveriam ser pessoas mais velhas, mais vividas, com uma percepção maior da vida. Assim eu pensava. (Até meu filho nascer) Meu pai conseguiu me convencer que fazer um concurso público era o melhor para mim. Eu teria estabilidade, salário todo mês, décimo terceiro e benefícios. E que já era hora de eu ter um emprego “decente”.

Quando você está desempregado, deve deixar sua dignidade de lado. preferencialmente ao lado do telefone, pegar sua agenda e avisar a todo mundo (que você mantenha boas relações) que você está topando qualquer parada. Dependendo do seu currículo qualquer parada pode ser: faxina, manicure, cuidar de criança, garçonete, babá de famoso, produção de teatro, projeto-escola, evento, teatro empresa, operação de som, de luz, assistente de maquiagem... Bem, eu já fui mosquito da dengue dentro de um ônibus em São Gonçalo.

A outra opção é procurar nos classificados um emprego “decente” no jornal. Essa é a opção para mim que é a mais vexatória. Acaba com a tua estima. Porque você descobre que seu Bacharelado em Artes Cênicas que demorou 5 anos para ser concluído vale menos que um curso técnico em datilografia (e estamos falando de 1993 onde este curso já não servia mais para nada). Ou seja, eu fiz um Bacharelado em porra nenhuma! É como se eu tivesse parado os estudos no ensino médio. Vamos ser humildes e ver o que o jornal tem a oferecer de nível médio. Vamos ver as opções: operador de telemarketing, secretária e puta. Humm... Nada legal. Um professor de teatro me contou que um dia ele andava por Copacabana e viu uma amiga que era bailarina clássica maravilhosa - que já tinha dançado no mundo todo mas já tinha uma certa idade - chorando no meio fio. Ela disse que no desespero do desemprego fez um teste para bailarina Go Go Girl na Prado Junior mas que não havia passado porque era “magra demais”.

Eu mesma, uma vez fiz um teste para um musical chamado “Band Age” estava na faculdade e o teste saiu no jornal. Fomos todos. No musical tinha uma personagem gorda, além disso eu já tinha montado esse musical no Teatro Amador e tive certeza: era para mim. Afinal eu já sabia as músicas de cor, tinha uma boa noção de dança e ia arrasar. Chegando lá no teste, mais de 300 pessoas para apenas um personagem do elenco principal – o resto seria teste para coro. O auge da humilhação quando a diretora me disse assim: “Querida, estamos precisando de uma gordinha e você é linda!”. O que? A vida toda tinha sido chamada de gorda e agora que eu precisa ser gorda eu era linda?? Comecei a gritar:”Mas eu sou gorda, olha aqui meu pneu! Eu tenho barriga! peso 58 kilos e tenho um metro e cinquenta e nove de altura, nem um metro e sessenta eu tenho!” Só de lembrar me dói! Que vexame...

O primeiro passo para concretizar minha ida para o inferno foi voltar para a escola e fazer aula de Licenciatura. Eu fiz uma Licenciatura Especial em Artes. O quesito básico era o bacharelado em Artes Cênicas, Música, Artes Plásticas e seus derivados como Design, Comunicação visual e etc. Essa galera era 90% da turma. A maioria das pessoas ter passado por experiência parecida – se lembrar de algum colega que ficava desenhando enquanto o professor dava aula, certo? Pois bem, essa turma era composta DESTES alunos. Todos desenhavam o tempo todo... Eu não queria ficar atrás e ficava fazendo minhas garatujas (Garatuja é um termo técnico para rabisco aleatório – termo este que aprendi na licenciatura e que uso agora exemplificando para quê esse curso serviu: Serviu para eu falar garatuja e achar que tiro onda com quem está lendo agora).

Garatujei durante um ano inteiro e ao final do curso saiu uma enorme convocação para dar aula no município. Direto. Estou com sorte, pensei na época (hahaha). Eram muitas vagas para professor de Artes Cênicas. (hahahaha)

Praticamente todos os alunos da minha faculdade fizeram a prova. Praticamente todos os alunos que passaram pela minha faculdade em épocas distintas fizeram essa prova. e era uma prova bem mal construída, antiga, dessas de decoreba de múltipla escolha e onde eu fiquei bem acima da média. Me achei um gênio e esperei o resultado da prova de redação. Esta prova de redação... acabou comigo... Me lembro que o título fazia um paralelo entre o Lula Presidente e a escola. Qual opinião dar sobre isso? Tive vontade de escrever que escola não servia para nada afinal já sabemos onde Lula chegou. Mas lembrei que podíamos ter resquícios da era Fernando Henrique e a valorização da formação universitária e fiquei sem saber o que falar e na dúvida saí falando um monte de merda, fiquei em cima do muro, não sabia o que eles queriam que eu pensasse e tentei dar uma enrolada básica. O que me garantiu uma nota péssima. Mas o suficiente para passar. Muita gente é reprovada, acredite se quiser.

Quando você se inscreve neste concurso, você de antemão marca com um x o local (ou melhor a CRE – Coordenadoria Regional Educacional) onde você pretende trabalhar. Marquei o x na segunda CRE que fica perto da minha casa. Porém este raciocínio foi seguido pela maioria esmagadora das pessoas, tornando uma vaga nessa CRE mais difícil do que passar em Medicina numa Universidade Federal. Fui recolocada numa lista geral que junto com minha nota merda de redação me garantiram um lugar na 9 ª CRE – (Campo Grande). Leia-se longe para caralho.

Tremi nas bases. Tinha passado. Era isso que eu queria, mas Campo Grande? Nunca tinha ido a Campo Grande e muito menos imaginava o que estaria por vir. Só sabia que Campo Grande era longe e grande. Minha reação foi seguida de uma contratura na coluna que me garantiu uma semana de repouso absoluto. E mais duas do uso de um colete imobilizatório que me deixava como uma policial do bope.

Pois foi no meio do repouso e ainda em choque que recebo o maldito telegrama com a data da convocação para assumir meu posto de professora. Meio aleijada, usando o colete e acreditando que ser o orgulho no papai me traria uma carona de taxi – convoquei Seu Arlindo para ir comigo tomar um drink no inferno. Ele ficou felicíssimo – disse depois eu ter passado nesse Concurso foi a melhor notícia do ano para ele (que ano de merda papai teve, pensei) – e resolveu ir comigo. Mas não fomos de taxi. Ele queria que eu aprendesse o caminho para voltar lá.

Papai tentava animadamente me mostrar a maravilha que seria ir de ônibus para Campo Grande. Que eu poderia levar um livro, ou um cd (Ainda usávamos walkman em 1995?), que eu podia ler uma revista, meditar enquanto utilizava o maravilhoso transporte público da nossa cidade. de colete!

Precisava chegar no local (pqp ou centro de Campo Grande) às nove da manhã, por isso acordei às 6 e meia com um orgulhoso pai me oferecendo café. Para mim ainda era noite afinal nessa época não dormia antes das 3. Bem grog de sono e anti-inflamatório, peguei meu colete imobilizador, apoiei o braço no papai e partimos em direção ao metrô até a Carioca de onde partimos para o Terminal Menezes Cortes. Papai queria apresentar a minha nova realidade. Ali comecei a ficar tensa. Aquele cheirinho de xixi... Aquela gritaria, aquele corre-corre, aquele barulho ensurdecedor de ônibus e o gás carbônico bombando no meio da minha cara já preta de fuligem! Eu andava como um zumbi - em choque anestesiada e meu pai animado me chamando. Lembrei da ribanceira do Parque Guinle. "Vem Patricinha!" Aqui é o ponto final do ônibus 1266. Centro - Campo Grande. Esperamos de 15 minutos a meia hora até que chegar o ônibus. Já havia uma fila de pessoas atrás de nós e um mini empurra empurra na hora de subir para o ônibus. (Note que estamos falando de um ônibus com ar condicionado, bem mais caro, menos procurado mas igualmente lotado) Entramos nele e meu pai anotou os horários de saída daquele ônibus para eu me organizar. (Para que anotar os horários se ninguém os cumpre??) Eu nem respirava, virei uma estátua.

Uma hora e meia depois chegamos ao local indicado - a sede da tal 9 CRE. Lá encontrei algumas amigas da faculdade – todas felizes de terem passado no concurso (depois encontrei as mesmas amigas em outras ocasiões e TODAS estavam arrependidas todas de licença, pensando em pedir exoneração). Então chegou o momento mais aguardado por mim. O qual eu deveria escolher minha escola. Eu tinha algumas ao meu dispor mas nenhuma referência de nenhuma delas. Era uma escolha cega. Os que optaram pela 9 CRE e que já conheciam o local, e que tinham notas melhores que a minha nota merda optavam na minha frente, escolhendo as melhores escolas (acredite se quiser, ainda tinha gente que tirava menos que eu e que ia para a 10 CRE - Santa Cruz).

Me senti como no programa Domingo no Parque do Silvio Santos – eu era a criança da cabine em frente a uma luz vermelha ouvindo música alta sem ouvir o que Silvio perguntava apenas respondia sim ou não a cada vez que a lâmpada vermelha acendia. Pergunta o Silvio: “Você quer trocar essa magnífica bicicleta por uma escova de dentes usada?” “Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!”. A pergunta para mim foi: “Qual escola você quer ir?” Eu expliquei que morava no Flamengo e que não conhecia nada de Campo Grande mas que adoraria ir para uma escola que tivesse sala de teatro e que fosse fácil para eu chegar. E perguntei se ela não poderia me indicar uma escola legal boa de trabalhar. Santa ingenuidade! Eu falei que não conhecia nada de Campo Grande. Agora vejo que a secretária vira na minha ignorância uma chance de locar (enfiar no cú em terminologia educacional) essa trouxa que vos fala numa escola onde ninguém queria trabalhar e onde nenhum professor de Artes parava. Imagine o nível da escola!!!!!! Ela perguntou se eu não gostaria de ir para a Clarisse Lispector, disse que era perto da Avenida Brasil e que eu não precisaria nem entrar em Campo Grande (que tem esse nome exatamente porque é grande, aliás enorme). Mas a escola é boa? perguntei eu... Santa ingenuidade batman! Só agora compreendo os risinhos da secretária que estava locada (ou enfiada) ao lado. Foi então que ouço uma voz (acredito que era do demônio) a falar: a escola é ótima, eu mesma dei aula lá por vários anos. Você quer ir para a Escola Clarisse Lispector? Voltamos ao cenário do Domingo no Parque. Estou dentro da cabine. A lampada acendeu e eu gritei: Siiiiiiiiiiiiiiiim! Pararará, pararaá agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar... do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar.... Obrigada Silvio! Obrigada Domingo no Parque!

Rapidamente barulhos de carimbo, tatá tatá... a burocracia funcionando e papéis para eu assinar. Muitas vias. E mais carimbos. Finalmente o trâmite estava concluído. A Secretária foi categórica: você não pode mais trocar de escola. Deve se apresentar nela agora e aqui está o endereço: Rua Volskwagen sem número – Carlotinha.

Agradeci por pura educação, peguei meu suado e feliz papai – afinal Campo Grande é um calor dos infernos – compramos água mineral e fomos procurar um ônibus para ir à tal Rua Volskwagen. Não havia. Estranho não é? É... Estranho, muito estranho. E fomos perguntando para os funcionários da CRE como chegar até lá só que ninguém sabia. Estranho não é? É... muito estranho! Retornei à Secretária carimbadora que explicou que a van para a Carlotinha passava na porta da escola. Por uma van leia-se uma Kombi ilegal. Mas onde pegar essa van kombi ? Na rodoviária ela respondeu. Fomos até a rodoviária de vans ilegais de Campo Grande. Perguntei para um senhor qual era a van que eu deveria pegar para a Carlotinha, ela apontou uma estacionada numa garagem. Fui até lá. O motorista da van kombi ilegal me disse que não conhecia essa rua Volkswagem, que nunca tinha ouvido falar nela e me perguntou o que eu ia fazer lá. Estranho não? Disse que ia para a Rua Volskwagem mas sabia qual era essa rua. Disse então que era professora e iria para a escola municipal Clarisse Lispector. Só então ele relaxou e sorriu: “Entra aí! Achei que vocês eram da polícia!"Oi? Palavras ao vento? Delírios de um motorista? Entramos naquela Kombi suja, enferrujada e lotada onde papai e eu chacoalhamos até a Carlotina. Nessa altura meu pai já era uma poça de suor, vermelho como um tomate e tentando manter um mínimo de dignidade naquela van. Tive sincera pena dele. Minha coluna quicava no imobilizador. "A senhora usa colete a prova de bala?" perguntou o cobrador da van. Não meu filho, é um colete para a coluna.

Continuamos chacoalhando, agora por uma estrada de terra sem asfalto e a kombi parou. Chegou professora. Chegou onde, se estávamos no meio do nada? Saímos da Kombi. Fiquei perplexa. Nessa altura do campeonato eu já imaginava que havia algo de muito podre no reino da Dinamarca mas ainda não precisava exatamente o quê.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

1. meu jardim de infância

O que leva uma pessoa a ser professora?

Quando eu era pequena, juntava as minhas bonecas e brincava de professora. Enfileirava a Barbie, a nenezinha, a Suzy e montava a sala de aula. Eu tinha um quadro verde e escrevia coisas sem sentido com giz colorido. Criava provas, fazia perguntas, arguições, gritava com as bonecas, chamava algumas de burra, dava beliscões e colocava todo mundo de castigo.

Não que meus professores agissem assim. Eu agia assim. Eu tive alguns professores incríveis muito bons mesmo que eu não me lembro agora, também tive alguns péssimos que não saem da minha cabeça e a maioria sem a menor sensibilidade para me entender.

Quando eu entrei na escola tinha três anos. Minha família acabara de se mudar para o flamengo e fui colocada no jardim de infância no meio do ano. As aulas já haviam começado, a turma já estava formada e eu era a menor de todas as crianças e mais boba também. Ou seja: um prato cheio para ser sacaneada, ou sofrer bulling que está mais em moda. Me lembro perfeitamente - ou minha mãe me contou depois não sei bem - que no meu primeiro dia de aula quando tive vontade de fazer xixi eu me levantei, mexi as perninhas e os quadris e sambei (fui criada pela minha vó que quando via eu “sambar” reconhecia os sinais: “Patricinha quer fazer xixi, alguém leva ela no banheiro!”). Pois bem. Eu sambei. E nada. Eu não sabia falar quero fazer xixi. Na minha casa não funcionava assim. Eu dava os sinais e vovó me entendia perfeitamente. Eu estava dando os sinais mas ninguém entendia. Resultado: xixi na calça! Fiquei molhada de xixi, e o pior: humilhada com a turma toda rindo de mim. Já cheguei causando! Me levaram para a sala da direção e ligaram para minha mãe para ela trazer roupa extra. A mijona.

Ah, esqueci de dizer: era um colégio de freiras. Algumas dessas freiras davam aula para nós como a irmã Corina – que foi minha primeira professora – eu não me lembro dela de jeito nenhum mas minha mãe diz eu era muito apegada à irmã Corina e que ela era um amor. Gordinha, sorridente e usava um lenço na cabeça. Acho que ela era careca.

Nessa época eu não tinha livro. Eu tinha uma Xerox. (quer dizer, já existia Xerox nessa época ou era mimeógrafo? Estamos falando de 1976.) O importante é que a professora me fazia uma espécie de prova oral. Mostrando três desenhos, ela me pediu que eu apontasse qual deles era um ovo de páscoa. Eu tinha na minha frente desenhos indistinguíveis (de péssima resolução diga-se de passagem) com três opções. A primeira delas era um borrão preto que eu pensei: hummmm esse é o ovo de chocolate, já mordido e deve estar uma delícia. E sem titubear apontei. Esse é o ovo! Esse! Com tamanha certeza que nem precisei olhar as demais opções. Então a professora Corina, aquela freira careca e carinhosa, muito carinhosa falou pausadamente e com uma voz tão doce, mas tão doce – agindo como se eu fosse debilóide: Não! Essa é uma pedra. O ovo de páscoa está aqui. E me mostrou a outra opção de desenho indistinguível. Ih! Acho que me precipitei (é óbvio que eu não tinha esse vocabulário na época, deve ter sido apenas um: ih caguei). Realmente, olhando para o desenho com calma podíamos quase reconhecer o que deveria ser um laço de fita envolvendo o ovo. Um ovo de páscoa embrulhado. Me senti uma idiota. Não falei nada. Eu falava muito pouco nessa época. (Como mudei!).

Minha mãe era a rainha do sem noção e no final do ano fechei com chave de ouro a série micos no jardim de infância. Todas as crianças deveriam levar bolas coloridas para colocar numa mini arvore de natal. Mini árvores pedem mini bolas, certo? Não para a mamãe Pinho. Minhas bolas eram de tamanho normal. E minha reação (ou melhor, minha vergonha) foi flagrada pelas lentes de papai.

(INSERIR FOTO ARVORE DE NATAL)

A primeira vez que pisei num palco foi em um evento de primavera, onde as crianças se vestiam de flores (a minha flor era a roxa – “já causando”), se vestiam de sol, abelhas e de jardineiros. Alguma professora contava a história da primavera (da abelha que beijou a flor e amava o sol e a fecundação que veio com a cegonha da bruxa má... algo desse tipo) e as crianças cantavam canções primaveris.

Dessa apresentação resultou uma outra foto de papai onde já com o palco vazio, apenas eu no centro dele, uma professora me apontava. Vendo as fotos no álbum eu criei uma história: Eu tinha arrasado na peça do jardim, tinha sido a melhor e aquela professora estava elogiando o meu talento como flor. A melhor flor roxa do Colégio Nossa Senhora da Comiseração, uma espécie de Oscar do jardim de infância. Na verdade, no final da apresentação, todas as crianças saíram do palco – exceto eu que empaquei ali como uma mula enquanto aplicava um chilique e chorava de pânico. Uma loira então se levantou do público e perguntou: Quem são os pais dessa criança? Meu pai deve ter achado uma graça, porque ao invés de me socorrer, sacou essa foto.

(INSERIR FOTO DO PALCO SOLITÁRIO)

Fiquei nessa escola até a quarta série. E foi lá que desenvolvi um certo medo de freira, de igreja e de qualquer ambiente católico. (Até hoje eu sou incapaz de entrar numa igreja e olhar para aqueles anjinhos barrocos que para mim são sarcásticos sem ter taquicardia e ligeira falta de ar.) A escola passou por obras intermináveis – e eu desenvolvi uma alergia igualmente interminável. Eram tosses tão fortes que me levavam ao vômito. Para a mijona da turma era um plus no bulling. Foi então que comecei a ter leves desmaios pela rua.

Desmaios estes que me levaram ao neurologista e ao Gardenal. Remédio que era moda na época e virou símbolo de criança maluca. Dizia-se comumente: “Esse aí tomou Gardenal quando era criança!”. Acompanhada de risadas essa frase me causava medo, afinal eu tinha tomado mesmo e por cinco anos! Depois o Gardenal foi proibido por retardar a inteligência da criança – ou seja se sou assim a culpa não é minha, é do Gardenal.

Essa crise de Gardenal teve seu ápice no parque Guinle, onde a brincadeira das crianças era descer uma ribanceira sentada num papelão. isso tem um nome do tipo roller de bunda. esqui de papelão, para mim é quebra queixo. Eu não queria ir, não queri ir mesmo, mas.... incentivada pelo meu pai que queria que eu brincasse como um moleque de rua, que eu tinha que aproveitar a vida, me incentivando com toda a classe: deixa de ser fesca porra, tá mundo se divertindo. Nesse gás, eu peguei um papelão, meu gardenal vibrando na mente e comecei a subir a ribanceira, o penhasco da morte ou como insistiam alguns o escorrega maneiro. Lá em cima, no ponto onde as crianças desciam (crianças sem gardenal, lembremos disso), eu sentei no tal papelão. É preciso especificar o efeito Gardenal: eu vivia no mundo da lua como se diz, eu me distraía com qualquer coisa. Aparentemente ficava parada olhando o nada, quase babando. Vivia momentos de aparente “apagão” digamos assim. Monga total.

Mas vamos voltando ao momento do papelão. Papai incentivando: “Vem Patricinha! Vem Patricinhaaaaaa! Vem logo porra!” Ok, fui. Mas não fui para baixo como as crianças normais, eu fui para o lado, ou melhor eu fui para frente, eu fui dando cambalhota e rolando a ribanceira como quem é jogado para fora de um trem em movimento. Rolava e pensava: não devia ter me jogado desse papelão, eu sempre me estrepo, eu sabia que ia dar merda. Pensando e rolando a ribanceira. Quando você sofre um acidente assim, parece que tudo fica em câmera lenta, talvez o cérebro precise desse tempo para absorver o mico que você está pagando... E via a grama se aproximando em close e pensava que merda... Olhava o céu e pensava tem algo errado com essa descida, vi meu joelho se aproximar do meu nariz e estranhava: "não era para eu estar sentada?", até que bati com a cabeça numa pedra, quase quebrei o nariz, ralei o cotovelo todo. Saí do parque carregada e jorrando sangue. Resultado: mais fotos. Mais bulling.

(INSERIR FOTOS DO ACIDENTE)

Ainda no Instituto Nossa Senhora da Comiseração ou INSC - como era chamado. Toda vez que eu via essa sigla - espalhada pelo colégio todo eu associava com o INRI da plaquinha que estava escrito no Jesus crucificado que tinha na casa da minha vó. Como uma detetive, como uma senhorita Rosa com o candelabro no Hall eu concluí: Essa escola tinha alguma coisa a ver com aquele crime. peguei meu bloquinho de anotação e acusei as freiras “Foram elas!”.

Finalmente eu descobri o teatro. Era uma festa de dia das mães e um dos meninos resolveu escrever uma peça para homenagear as mães. A peça se chamava Alice na panela de feijão (ou de pressão). Eu sei que tinha feijão, tinha rato no feijão e tinha uma mãe de robe que entrava gritando. Eu fiz o papel da mãe. Foi um sucesso, minha mãe adorou. Fui super elogiada, aplaudida, diria até ovacionada. Para uma garota Gardenal aquilo era o paraíso e decidi: Serei atriz! Aqui me tratam bem! Não tenho fotos desse momento mágico. Mas imagine: eu estava gloriosa com um robe rosa, rolinhos e lenço no cabelo, maquiagem cafona e salto alto. Representando as mães dos anos oitenta!