quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

9. o bom, o mau e o feio

De dentro do carro sai uma loura espetacular. Com cabelos a la Farrah Fawcett, recém saída das series da tarde dos anos oitenta, com uma calça branca cintura alta justíssima rachando a perseguida com uma camisa roxa e muitas. Eu disse muitas pulseiras e colares de bijuteria dourados. (sem sacanagem me lembrei de Maria Bethania na capa de Pássaro da manhã. ) Esse visual era arrematado por unhas Alcione vermelhas carmim, uma bolsa enorme de onça e uma bandeja coberta por papel aluminio. Com aquela cara de quenga ela seria professora de que? matemática? Essa era a professora de ciências, Margareth.

Uma mulher gorda obesa mórbida atravessou o portão, secando o rosto com uma toalhinha de mão. (moda que a principio me surpreendeu depois quase aderi - eu disse quase!) meia hora depois de arrastar pé na frente de pé numa demonstração de total coragem e determinação afinal aquele corpo não fora feito para andar - o que mais me impressionou foi o tamanho dos pés. Mínimos. Ela vai cair, pensei. E comecei a rezar para que isso não acontecesse. Seria uma catástrofe. Mas o que me surpreendeu de fato foi quando descobri que ela era a professora de educação física. Veroca.

Então surgiu Memeia. Que depois seria a minha melhor amiga. Ela era como poderei descrevê-la com precisão.... Era normal.

8 . a escola até que seria legal se não tivesse alunos

Sabe que a escola até que seria legal se não tivesse alunos?

Para o meu primeiro dia de aula, fiquei tão nervosa em não me atrasar que cheguei uma hora antes do marcado. Eu morava tão longe e o transito era tão maluco que ou eu chegava uma hora antes, ou me atrasava em uma hora. Não havia como ser pontual. Estava querendo causar uma boa impressão, afinal era o primeiro dia de aula - aliás de reunião pedagógica.

A dona da maior buzanfa do Brasil veio na minha direção e abriu os portões de Hades. Fiquei parada ali, olhando aquele muro enorme e pensando que podia ter um grafite ali, que seria legal juntar as crionças (opa, pela primeira vez uso este termo. acabei incorporando um vocabulário novo aqui). para pintar, para deixar aquele local com cara de... escola. Eu só conseguia olhar para o pior. Para as janelas quebradas, para a fiação elétrica desencapada, para o ventilador sem pá... Ah pensei. Estou sendo muito negativa. Só estou procurando o que há de ruim aqui. Preciso mudar meu olhar. Vamos procurar coisas positivas agora. Vamos lá. Agora.

Hummm... o que seria? Vamos procurar não pode ser tão difícil assim... Olhei para meu relógio. 8:30. Hum... o que seria? Algo de bom... Bem ter salário fixo todo mês era bom... Mas fora o salário, aqui agora.... Hum... deixa ver.... Calma... vou pensar em algo.....

Então no portão surgiu um carro vermelho. Buzinou. Eram os primeiros professores chegando. Bem ia conhecer meus colegas de trabalho... Talvez esse fosse o ponto positivo... Meus colegas de trabalho....

7. final da colonia

Perdi a voz no segundo dia de aula e passei a me comunicar com apitos e sinais. Por causa da dor de cabeça, aderi aos protetores de ouvido de silicone e à respiração iogue. Para passar o tempo, eu levava bolas e gritava: já! Essa palavra mágica fazia com que as crianças corressem, gritassem, jogassem a bola para o alto, jogassem bolas uns nos outros, corressem atrás da bola, gritassem "bola", gritassem "aaaaaaaaaaa" e eu continuasse numa mínima paz interior.

A diretora pediu que eu fizesse um teatrinho - aliás descobri que me formei em teatrinho nessa hora, sempre me pediam para "fazer um teatrinho, um jogral, sei lá qualquer coisa para passar o tempo". Podia fazer palavras cruzadas ou jogar baralho também, tanto faz. Eu aleguei que seria necessário mais tempo para isso. O teatrinho ficaria para uma próxima vez - que eu já imaginava que não existiria próxima vez.

O professor de educação física, conseguiu uma verba para alugar um som, e fazer uma festa na quadra. Aliada a verba do lanche especial - cachorro quente e refrigerante faríamos uma super festa. Fui convocada para animar a festa. Oi? Vamos lá fazer um teatrinho... Subi no palco e comecei a contar uma história para as crianças menores, o microfone ficou sem pilha, era impossível ouvir o que eu falava e tentei me esgoelar para acabar a historia para a unica criança que continuava olhando para mim. Continuava ali porque não andava sozinha. As demais foram pegar picolé que a colonia conseguiu com a associação de moradores (ou com o dono do local) não entendi direito. O fato é que chegaram dois assistentes do professor e foram para o palco. de short mínimo e as meninas de top, com os piercings todos de fora o trio (Los Angeles ?) começou a dançar no palco, causando um frisson nas crianças. O que quero dizer com dançar seria mais sacudir a bunda, fazendo agachamentos e movimentos pélvicos, a maioria de costas para o público, os frontais eram acompanhados de dedos nos lábios e mãos nos seis e genitália. Ok.
As professoras batiam palmas, a diretora batia palmas, e todos estavam felizes. Depois o professor de geografia subiu no palco e imitou o seu Peru do Zorra Total, causando uma enorme gargalhada. Minha diretora foi franca comigo: Você não imita ninguém do Zorra Total? Eu disse que não. Nem a velha surda da praça? Eu respondi que não e ela: Mas não sabe dançar essas danças bacanas? Eu disse que não e ela soltou a pérola: Mas você faz o que então?

É eu não sabia fazer nada.